sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Apenas mais um dia normal

Gostava de viver no mundo do Harry Potter ou qualquer outro filme de fantasia. 
Não por existir magia e criaturas de um mundo diferente que pensávamos existirem apenas na nossa imaginação, mas sim porque nesses filmes todos os dias são diferentes e não sabemos o que esperar de amanhã. 
No mundo real os dias passam sempre da mesma forma, reconheço que alguns são diferentes e mais excitantes que outros e por isso temos dias especiais.
Mas vivendo num mundo diferente em que se pode usar magia, em que se luta com criaturas fisicamente mais fortes e que as nossas possibilidades de sair vencedores são quase inexistentes, aí sim todos os dias eram especiais. Sei que se vivesse nesse mundo provavelmente, apesar de não ter tempo para escrever, desejaria viver calma e tranquilamente e por isso no mundo actual, irónico. 
No fundo sou apenas um indignado que não se consegue contentar com a calma de um dia normal, de uma vida de rotina. Prefiro viver num mundo de sonhos, num mundo que sei ser mais calmo e ao mesmo tempo mais  arriscado e fora do comum que o actual.
Se a vida for como os filmes só as raparigas bonitas e indefesas e rapazes muito maus dotados de um físico descomunal (a que também se podem chamar esteróides) ou então uma cara bonita mas com poderes mitológicos é que tem lugar garantido nessa vida repleta de emoções.
Pois bem, não tenho qualquer poder dos deuses, não tenho um físico de quem passam 20 horas num ginásio e 4 a tomar "suplementos energéticos" e muito menos sou uma rapariga bonita e indefesa que no fim do filme passa a ser modelo de uma marca conhecida e capa das revistas. 
Sou apenas um gajo normal e em parte sinto-me feliz por isso, pois não morro cedo com os ossos desfeitos e aspecto 30 anos mais velho que a minha idade, nem entro em paranóias e me suicido diariamente porque só como uma ervilha à refeição. 
No fundo sou apenas um gajo normal, com uma vida normal, a viver mais um dia normal. E apesar de não gostar de uma vida normal até gosto de ser normal. 
Talvez tenha nascido num tempo em que ser normal é no fim de contas anormal.
É. Talvez tenha nascido à frente deste tempo. Só não percebo a razão.
Talvez me deva cingir ao mundo de sonhos e enlouquecer sozinho ou talvez eu é que seja anormal. De qualquer forma continuo na mesma....
Apenas num dia normal.

sábado, 17 de setembro de 2011

Discussão



Na eterna discussão de se realmente haverá ou não uma forma espiritual que para além de conceber toda a raça humana também molda aquilo a que a religião apelida de destino traçado, há sempre opiniões divergentes.
E toda a gente procura ter razão.
Digamos que todos podem estar certos ou todos errados. Se essa forma sobre-humana realmente existe torna-se um personagem mesquinho no meio da história que criou. Ou pior, torna-se um perverso que nada faz mais que brincar com as personagens que somos.
Mas há quem diga o contrário e nos tente seduzir a que apenas pagamos pelos nossos erros e pelos alheios. O que não o torna menos mesquinho e perverso.
Ou será que realmente ninguém existe e nós apenas vivemos não com esperanças de outra vida, mas de tão somente prolongar esta?
Causa repulsa pensar que se um ser capaz de tudo continua a usar-nos como uma criança quando brinca e recria as suas histórias. Mas ao mesmo tempo quem nos seduz com as suas maravilhas garante que é um ser de amor. Mas esse amor ou é tão grande ou tão pequeno que nos proíbe muitas vezes de ser quem somos (ou pelo menos levam a que acreditemos nisso).
Amar esse ser ou a ideia que dele temos deve criar entre nós uma repulsa total, já que em seu nome foram e continuam a ser cometidos os mais degradantes crimes contra a própria raça.
Na minha íngreme ignorância creio não sermos nós quem terá de convencer seja quem for da sua existência ou total falta dela. 
Mas no mesmo sentido ignorante creio que para provar qualquer dos pontos da questão não deveriam ser impostas proibições. Mas isto é apenas uma das milhares de opiniões pelo mundo e muito provavelmente das menos relevantes.
Ultimamente aquilo a que chamamos religião tende a roçar o cepticismo. Entre eles há apenas uma linha muito ténue.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Vontade

Podias deixar seu eu a decidir aquilo que quero. Mas não. Desenrolas-te sempre à minha revelia.
Seria estranho chamar-te parte de mim sendo que és a parte de mim que não faz parte do meu ser. És então o quê?
Um processo que desenvolvo em forma de querer mas que nem sempre eu quero?
Nada me é então mais estranho que tu a não ser eu. Eu. Eu mesmo ou a estúpida vontade. Vontade de tudo e vontade de nada. Nem sequer sei porque é que tenho vontade de algo que eu não sei querer. Já nem sei porque desejo. Ou porque penso. Ou até porque quero.
É frustrante ter vontade de algo que se pensar um pouco não quero. Vai contra os princípios. Contra o ser.
Mas se pensar novamente... Que princípios? Que ser? 
Porque é que me tenho de reger num corpo ao sabor do que os demais delinearam? 
Sou rebelde se não concordo com padrões? Serei então.
Sou louco por contradizer o que me afirmam? Sempre vivi com uma dose excessiva de loucura.
Sou diferente? Porra, lutei por isso.
Sou alguém? Não necessariamente, mas também não importa.
Quero apenas viver por mim, não por aquilo que me impõe. Deixar a vontade de parte e limitar-me ao querer. 
O problema é que provavelmente se não sentisse vontade irritar-me-ia sentir querer.
E se não quisesse irritar-me-ia por sentir fosse o que fosse.
Talvez o problema seja eu. Por sentir.
Talvez o problema seja tudo e todos. Por pensar.
Querer. Sentir. Pensar. Que importa? No final de tudo viver limita-se a seguir um caminho delineado por aquilo a que chamamos sociedade. Seja lá isso o que for.

terça-feira, 26 de julho de 2011

viver por viver

Apetecia-me simplesmente participar na tua suave loucura, mergulhar na tua doce e húmida tentação, sentir o célebre encanto de beleza e aquela sensação de poder...
Quanta vontade, quanto desejo... Sinto vontades inconsoláveis de me provocar de dor e prazer, choro e sufoco...
Quem mais que eu poderá conhecer todos os recantos dessa arrebatadora vontade da qual padeço? Quem mais que eu poderá ter estudado tão a fundo todo esse voraz desejo? Quem mais que eu poderá ser aquilo que eu sonhei?
Ninguém mais... Nem eu o fui. Nem eu o senti. Nem eu a vivi.
Nem sei dizer quem sou, quem fui. Senti a repugnante vontade de mudar tudo a que chamam eu, a que chamei eu.
Se ainda pudesse sentir, desejava sentir esvair-se a voz, ir-se a força, sufocar-se o respirar e deixar simplesmente isto a que chamam viver...
Mas há razões que insultam a própria razão e eu vivo em algum recanto dessa insultuosa tortura, dessa insensatez vil e desmembrada.
Assaltam-me desejos de regredir na cadeia da vida e alterar veemente o seu insidioso curso.
Mas há sobreposições físicas que condicionam a forma de desejar e de sonhar.
Se pudesse realmente desejar, era simples e desejava tão simplesmente não ser eu. Arrancar as páginas que pertencem aos capítulos da vida. Mas há páginas que se arrancam diariamente e o próprio viver por viver é morrer todos os dias um pouco sem ter coragem de o fazer.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

sonhos

"o homem é do tamanho do seu sonho".......mas e quando não se podem realizar os sonhos?? qual é o tamanho???

Será que alguém se debruçou no assunto e fez algum estudo estatistico acerca da taxa de fracasso dos sonhos? Convem ter em atenção, para fins estatisticos, que a maioria dos "falhanços" do Destino são por desmotivação e desistencia do proprio sonhador, como é obvio essas amostras são meros "votos nulos" na população dos sonhadores.

Não sonhamos hoje, para concretizar amanha, seria de loucos!! Mas sonhamos hoje a pensar no amanha, e isso deixa-nos loucos! Ninguem é paciente o suficiente para aguardar em perfeita calma o seu Fado, se este vai ou não ao encontro do mais desejado. E se não for?? O Homem deixa de ser um sonhador por isso?? Não! Torna-se tão infimo equiparado aos seus sonhos fracassados?? Não. O seu tamanho é enorme...

Em suma, somos todos loucos por acreditar na personificação do sonho e somos loucos também por não ter a força capaz de o concretizar... Partilhamos a grandeza de espirito sonhador e a fraqueza da força... a preguiça de agarrar aquilo que queremos contra a unica coisa que nos liberta que é sonhar. "Alguns têm na vida um grande sonho e faltam a esse sonho. Outros não têm na vida nenhum sonho, e faltam a esse também"


com a colaboração de uma das pessoas mais importantes que fez e continua a fazer parte da minha vida....

domingo, 8 de maio de 2011

Mágoas

Só quero sentir a água a correr pelo corpo, ou escorrer.... quero não notar as lágrimas que teimam em cascatear livremente, ou não tão livre, visto que se mostram anárquicas ao meu ser......
Será correcto considerar injusto algo que eu não tenho capacidade de alterar e não posso nada mais fazer que me sujeitar a viver imperativamente com isso?
Não sei, acho que perdi as respostas...
E só ganhei dor, desespero e desafio...
Sinto-me menos que eu mesmo, desafiando as leis da existência a permanecer impreterivelmente numa pose que seja considerada aceitável pela estereotipização social...Simplesmente sem poder ser eu mesmo...
Deixem-me mergulhar, sentir a água a elevar e embalar o meu corpo que se torna cada vez mais leve, esse peso relativo a passear livremente pela água que me embala, me limpa as lágrimas, me compreende...
Que melhor amigo consegue fazer tanto?
Só quero afogas as minhas mágoas naquilo que pode afogar um corpo...
Ou o corpo naquilo que pode afogar as mágoas...
De qualquer forma afogar é afogar...
E nunca viver foi outra coisa senão caminhar para a inexistência...

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Queimar

Adoro ver o crepitar do fogo.
A pequena chama luminosa a consumir o já desistente corpo, a reduzi-lo à insignificancia do que é ser nada.
Mas o corpo parece gostar de ser consumido por tal fogo, contorce-se a um ritmo proporcional à chama, pois é ela que manda e que decide.
E quando acaba o fogo acaba também o corpo, será mais correcto que acaba o fogo quando já não há mais corpo... Sucumbiu à vontade, ao delírio...
acabou...
tornou-se nada.....
E todos somos nada, somos tão somente uma triste representação do fogo, daquele crepitar que tanto se adora e admira...Precisamos sempre de outro corpo para poder queimar, mas se o corpo acaba já não queimamos (mas somos pirómanos), então tornamos-nos nada....
Essa estranha e amarga sensação do que é ser nada...e não somos, somos apenas moléculas e reacções químicas que formam um complexo conjunto de sensações, ou também há quem lhe chame corpo...
Ser só corpo é como ser nada, mas ser nada é mais do que ser só corpo.